Atualmente a palavra “seita” é usada para designar as religiões heterodoxas ou espúrias, é uma palavra já desgastada, trazendo em si, muitas vezes, um sentido pejorativo. São grupos que surgiram de uma religião principal e seguem as normas de seus líderes ou fundadores.
Entendendo a diferença entre religião e seita
Religião
A palavra religião tem dúbia origem no latim, podendo, em dois momentos diferentes da obra do grande filósofo patrístico Agostinho de Hipona (Santo Augustinho), significar reeleger ou religar. Há um consenso, porém, na adoção desse último significado (religar, de re ligare).
O Dicionário Aurélio, por exemplo, utiliza essa noção para apresentar o significado do termo religião como um restabelecimento do elo rompido entre os seres humanos e Deus. Na tradição cristã, essa noção faz mais sentido, pois o pecado original rompeu a ligação existente entre os homens e o ser supremo, devendo o homem buscar restabelecer esse elo.
Em geral, religião pode designar a crença em um ou vários deuses, superiores por alguma ou várias características aos seres humanos e que, de algum modo, criam, governam e ordenam o mundo natural. As religiões, em geral, dizem respeito à crença no sobrenatural, portanto, não podem ser comprovadas por meio das ciências da natureza.
As religiões podem derivar da interpretação de uma escritura sagrada (como o cristianismo deriva do novo testamento da Bíblia) ou de práticas religiosas, como o candomblé.
Seita
Segundo Peter L. Berger, seita seria a organização de um grupo contra um meio que consideram hostil ou descrente. O grupo então se fecha em um corpo de doutrinas e vê o restante da sociedade como inerentemente má ou pecadora, passível da ira divina, que inevitavelmente sobrevirá sobre eles. Por sua vez, segundo o Dicionário Aurélio, deriva do termo latim secta, que significa seguidor. Geralmente, uma ou mais pessoas fundam uma seita quando passam a divergir do pensamento tradicional e acumulam seguidores dessa nova forma de pensar. As seitas podem estabelecer-se no âmbito religioso, político, moral e até filosófico (os antigos filósofos gregos fundaram seitas, nas quais os seus discípulos eram os seus seguidores). Até mesmo Jesus Cristo fundou uma seita, pois os seus apóstolos passaram a segui-lo e o que veio em seguida foi uma ruptura com a religião judaica, que era o credo religioso comum aos habitantes das redondezas de Jerusalém e da Galileia.
Um grupo pode denominar outro grupo de seita por causa do seu ponto de vista. Porém, aquele grupo denominado seita pode, perfeitamente, autodenominar-se uma nova religião. O que entra em jogo, nesse caso, é a questão da perspectiva de quem analisa e julga o que está em questão.
Entendendo o sectarismo
As seitas de orientação cristã usam as noções de pecado e santificação como forma de dar legitimidade discursiva aos neófitos e manter os que já são seguidores. A saída do grupo pode acarretar diversos efeitos psicossociais em decorrência do sentimento de solidão, de auto culpabilização e da hostilidade advinda do grupo que se está deixando. Sair de uma seita nunca é fácil porque ela exerce controle sobre toda a vida individual e coletiva dos indivíduos. As seitas, assim como as religiões instituídas, são agências reguladoras do pensamento e da ação, mas com a diferença de que na seita a regulação tende a ser mais totalizante, devido ao rígido controle que exercem sobre os sujeitos.
O sociólogo inglês Roy Wallis argumenta que uma seita é caracterizada por “autoritarismo epistemológico” ou seja autoritarismo fundamentalista ideológica: seitas se definem como fonte de autoridade para a atribuição legítima de heresia a outros grupos. De acordo com Wallis, “seitas estabelecem uma reivindicação de possuir acesso exclusivo e privilegiado à verdade ou a salvação e seus adeptos comprometidos normalmente consideram todos aqueles que estão fora dos limites da coletividade como “um erro”. Ele contrasta isso com um culto que descreve como caracterizada pelo “individualismo epistemológico”, pelo qual “o culto não tem lugar claro de autoridade final para além do membro individual”.
Com tempo, muitas seitas desaparecem por falhar em adquirir novos membros ou tornam-se denominações religiosas quando ganham status de aceitabilidade na sociedade local. Às vezes, uma seita passa a ser a matriz religiosa de grande parte da sociedade, como foi o caso do Cristianismo e do Budismo. O Cristianismo surgiu como uma seita judaica e expandiu para torna-se a Religião ou Igreja do Império Romano.
Para efeitos didáticos, o Instituto Cristão de Pesquisas, IPC classifica assim as seitas:
- Secretas: Maçonaria, Teosofia, Rosacrucianismo, Esoterismo etc.
- Pseudocristãas: Mormonismo, Testemunhas de Jeová, Adventismo do Sétimo Dia,
Ciência Cristã, A Família (Meninos de Deus) etc. - Espíritas: Kardecismo, Legião da Boa Vontade, Racionalismo Cristão etc.
- Afro-brasileiras: Umbanda, Quimbanda, Candomblé, Cultura Racional etc.
- Orientais: Seicho-No-Iê, Messiânica Mundial, Arte Mahikari, Hare-Krishna, Meditação
Transcendental, Unificação (Moonismo), Perfeita Liberdade etc.
Baseado no modelo de Robert Jay Lifton, consta de oito pontos de reforma do pensamento tal como se usa em uma organização sectária. São os seguintes:
- Controle do meio – Limitação de todas ou algumas das formas de comunicação com
aqueles ao grupo. Livros, revistas, cartas e visitas aos amigos são tabus. “Vem e isolese”. - Manipulação Mística – Converso potencial ao grupo chega a ser convencido além da
dúvida do elevado propósito, do destino especial do grupo, através de um profundo encontro ou experiência. Por exemplo, através de um suposto milagre ou palavra profética daqueles no grupo. - Demanda de pureza – Um objetivo explícito do grupo é produzir certa forma de mudança, seja de forma global ou pessoal. “A perfeição só será possível se permanecer no grupo e entregar-se a ele”
- Culto de confissão – A pouco saudável pratica de expor-se aos membros do grupo,
frequentemente no contexto de uma reunião pública, admitindo pecados passados e
imperfeições, inclusive dúvidas sobre o grupo e pensamentos críticos sobre a
integridade dos líderes. - Ciência sagrada – A perspectiva do grupo é a verdade absoluta e completamente
capaz de explicar TUDO. A doutrina não está sujeita a melhoras ou críticas. A
conformidade ABSOLUTA com a doutrina é necessária. - Carga da linguagem – Um novo vocabulário emerge no contexto do grupo. Os adeptos
“pensam” em parâmetros estreitos e muito abstratos, próprios da doutrina do grupo. A
terminologia previne suficientemente o pensamento crítico reforçando uma
mentalidade em ‘branco e preto’. Os clichês e respostas preparadas introduzem
preconceitos mentais. - Doutrina sobre a pessoa – A experiência prévia ao grupo e dentro do grupo é
interpretada de forma rígida e decisiva por meio da doutrina absoluta, inclusive quando
a experiência contradiz a doutrina. - Dispensa da existência – A salvação só é possível dentro do grupo. Aqueles que o
abandonem estão condenados.
O que é Maçonaria
- O que é a Maçonaria? – A Maçonaria é uma instituição essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressista.
- Por que é filosófica? – É filosófica porque em seus atos e cerimônias ela trata da essência, propriedades e efeitos das causas naturais. Investiga as leis da natureza e relaciona as primeiras bases da moral e da ética pura.
- Por que é filantrópica? – É filantrópica porque não está constituída para obter lucro pessoal de nenhuma classe, senão, pelo contrário, suas arrecadações e seus recursos se destinam ao bem-estar do gênero humano, sem distinção de nacionalidade, sexo, religião ou raça. Procura conseguir a felicidade dos homens por meio da elevação espiritual e pela tranquilidade da consciência.
- Por que é progressista? – É progressista porque partindo do princípio da imortalidade e da crença em um princípio criador regular e infinito, não se aferra a dogmas, prevenções ou superstições. E não põe nenhum obstáculo ao esforço dos seres humanos na busca da verdade, nem reconhece outro limite nessa busca senão o da razão com base na ciência.
- Quais são os seus princípios? – A liberdade dos indivíduos e dos grupos humanos, sejam eles instituições, raças, nações; a igualdade de direitos e obrigações dos seres e grupos sem distinguir a religião, a raça ou nacionalidade; a fraternidade de todos os homens, já que somos todos filhos do mesmo criador e, portanto, humanos e como consequência, a fraternidade entre todas as nações.
- A Maçonaria é religiosa? – Sim, é religiosa, porque reconhece a existência de um único princípio criador, regulador, absoluto, supremo e infinito ao qual se dá, o nome de GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO, porque é uma entidade espiritualista em contra posição ao predomínio do materialismo.
- A Maçonaria é uma religião? – Não. A Maçonaria não é uma religião. É uma sociedade que tem por objetivo unir os homens entre si. União recíproca, no sentido mais amplo e elevado do termo. E nesse seu esforço de união dos homens, admite em seu seio pessoas de todos os credos religiosos sem nenhuma distinção.
- Para ser Maçom é necessário renunciar à religião a qual se pertence? – Não, porque a Maçonaria abriga em seu seio homens de qualquer religião, desde que acreditem em um só Criador, o GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO, que é Deus.
- Então a Maçonaria é tolerante? – A Maçonaria é eminentemente tolerante e exige dos seus.
- O que a Maçonaria combate? – A ignorância, a superstição, o fanatismo. O orgulho, a intemperança, o vício, a discórdia, a dominação e os privilégios.
- A Maçonaria é uma sociedade secreta? – Não, pela simples razão de que sua existência é amplamente conhecida.
Quebrando o sectarismo referente a maçonaria
A Maçonaria tem como base a fraternidade entre seus membros, não tem preconceito de crença, raça ou poderes, e nem admite em seu seio, pessoas que não tenham um mínimo de cultura que lhes permitam praticar os seus sentimentos e tenham uma profissão ou renda com que possam atender às necessidades dos seus familiares, fazer face às despesas da sociedade e socorros aos necessitados, praticar a filantropia, ser um cidadão correto e cumpridor dos seus deveres para com a sociedade em que vive e praticar a justiça social, isso não torna a maçonaria uma seita, é somente um principio ideológico e filosófico de sua doutrina.
- Controle do meio – Não há impedimento de seus membros buscarem conhecimento sobre determinado assunto seja ele filosófico ou religioso e também não se julga certo ou errado sobre opiniões e conceitos desde que não fira a constituição da Ordem, todos são livres pensadores.
- Manipulação mística – Não temos experiencias místicas ou exposição a drogas que elevem nossa consciência e não há profetas ou alguém que detenha uma mensagem vinda direta de G.A.D.U.
- Demanda de pureza – A permanecia ou não na fraternidade não garante mudança
de vida seja espiritual, material ou financeira, essa mudança é individual sem gerencia de
qualquer que seja. - Culto de confissão – É comum nas reuniões maçônicas compartilharmos nossas
aflições e buscar no próximo compaixão e amparo, não se mistifica nenhuma autoridade ou
líder, todos somos iguais. - Ciência sagrada – A maçonaria não detém a verdade absoluta e nem tão pouco a
salvação, ela simplesmente é uma fraternidade com um único objetivo, a elevação do indivíduo. - Carga da linguagem – A maçonaria estimula o livre pensamento e opiniões de seus
membros. - Doutrina sobre a pessoa – A maçonaria não impera sobre seus membros qualquer
julgo doutrinário que não seja baseado nos princípios da Ordem, a liberdade, a igualdade e a
fraternidade. Ao maçom e obrigado a obediência a lei moral e não será jamais um ateu estúpido
e nem um libertino irreligioso. - Dispensa da existência – A maçonaria não detém a salvação da alma, não é seu
objetivo, ela simplesmente mostra o caminho para uma vida de valores morais, espirituais que
o indivíduo se enriquecerá se assim o quiser.
Portanto ter em seu rol de membros, religiosos não torna a maçonaria uma religião, mesmo ela tendo praticas consideradas religiosas, porque o objetivo dessas práticas ritualísticas é que de forma sucinta e gradual, elevar a membresia ao autoconhecimento, propiciando a evolução intelectual e espiritual e a prática da filantropia o ajuda a entender que ele estar nesse mundo também para ajudar o próximo comungando com a fé e a caridade, busca incessante do caminho do meio, da tolerância religiosa, política e ideológica, do respeito ao próximo e as instituições e da temperança de suas ações para serem benéficas para consigo e aos que orodeiam.
Não se ensina ou propaga-se uma religião ou uma filosofia dominadora, todos são livres pensadores, nem tão pouco se afirmar, que somente através de suas práticas e crenças é que determina a salvação da alma. Somente pratica-se o senso comum entre seus membros, ajudar o próximo através da filantropia e a busca da razão natural e a fé no criador que é DEUS ÚNICO e ETERNO o GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO, revelado a muitos conforme sua sabedoria.
Tiago diz: “Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tiago 2:26). A fé sem obras é uma fé morta porque a falta de obras revela uma vida inalterada ou um coração espiritualmente morto. Se possuímos fé, somos justos aos olhos de Deus. Porém, se a fé for verdadeira, terá como frutos ações adequadas à salvação. Efésios (2:8-10):
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. Portanto, se realmente temos fé, devemos exercer nossa função de produzir boas obras.
“A Maçonaria escolheu uma forma em que melhor pudesse apoiar sua doutrina e faze-la aceitável por todos e realizou esse pensamento, amparando-se da fraternidade colocando-a como pedra fundamental, sobre a qual edificou o templo onde rende culto a tudo que é grande e belo. Para firmar o estabelecimento desta virtude sublime, para colocar como nome tutelar da nossa Ordem, era preciso aceitar em nossa Associação a todos aqueles que, garantidos por uma consciência reta, trouxerem, como contingente para a obra, sentimentos de moralidade e justiça”. (LYRA 1971, p245)
BIBLIOGRAFIA
- https://www.gob.org.br/o-que-e-maconaria
- ANDRADE, Athos Vieria de. O Evangelho e a maçonaria, uma parceria que deu certo no Brasil, Gráfica Lithera Marciel. 2004
- LYRA Jorge Buarque. A maçonaria e o cristianismo. Ed. Espiritualista LTDA 1971.
- Robert Jay Lifton (born May 16, 1926) is an American psychiatrist and author.
- PORFÍRIO, Francisco. “Diferença entre religião e seita”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/religiao/diferenca-entre-religiao-seita.htm. Acesso em 22 de novembro de 2023.
- https://www.significados.com.br/seita
- Peter Ludwig Berger (Viena, Áustria, 17 de março de 1929 – Brookline, Massachusetts, Estados Unidos, 27 de junho de 2017) foi um sociólogo e teólogo luterano austro-americano, conhecido por sua obra “A Construção Social da Realidade” publicada em coautoria com Thomas Luckmann.